E, para mim, as aulas retratam isso mesmo: a DÁDIVA!!! E é bom quando isso se torna contagioso e, de repente, alguém do outro lado também resolve enriquecer-nos! Foi o que aconteceu esta semana: uma criaturinha "apresentou-me" a José Duro... confesso que não conhecia mesmo... e nada de piadinhas com o nome, combinado?! :p Por isso, aqui fica o poema "Doente" e espero brevemente ler mais coisas do poeta alentejano...
Que negro mal o meu! estou cada vez mais rouco!
Fogem de mim com asco as virgens d'olhar cálido...
E os velhos, quando passo, vendo-me tão pálido,
Comentam entre si: - coitado, está por pouco!...
Por isso tenho ódio a quem tiver saúde,Por isso tenho raiva a quem viver ditoso,
E, odiando toda a gente, eu amo o tuberculoso.
E só estou contente ouvindo um alaúde.
Cada vez que me estudo encontro-me diferente,Quando olham para mim é certo que estremeço;
E vai, pensando bem, sou, como toda a gente,
O contrário talvez daquilo que pareço...
Espírito irrequieto, fantasia ardente,Adoro como Poe as doidas criações,
E se não bebo absinto é porque estou doente,
Que eu tenho como ele horror às multidões.
E amando doudamente as formas incompletasQue às vezes não consigo, enfim, realizar,
Eu sinto-me banal ao pé dos mais poetas,
E, achando-me incapaz, deixo de trabalhar...
São filhos do meu tédio e duma dor qualquerMeus sonhos de neurose horrivelmente histéricos
Como as larvas ruins dos corpos cadavéricos,
Ou como a aspiração de Charles Baudelaire.
Apraz-me o simbolismo ingénito das coisas...E aos lábios da Mulher, a desfazer-se em beijos,
Prefiro os lábios maus das negregadas loisas,
Abrindo num ancelar de mórbidos desejos.
E é vão que medito e é em vão que sonho:Meu coração morreu, minha alma é quase morta...
Já sinto emurchecer no crânio a flor do Sonho,
E oiço a Morte bater, sinistra, à minha porta...
Estou farto de sofrer, o sofrimento cansa,E, por maior desgraça e por maior tormento,
Chego a julgar que tenho - estúpida lembrança -
Uma alma de poeta e um pouco de talento!
A doença que me mata é moral e física!De que me serve a mim agora ter esperanças,
Se eu não posso beijar as trémulas crianças,
Porque ao meu lábio aflui o tóxico da tísica?
E morro assim tão novo! Ainda não há um mês,Perguntei ao Doutor: - Então?...- Hei-de curá-lo...
Porém já não me importo, é bom morrer, deixá-lo!
Que morrer - é dormir... dormir... sonhar talvez...
Por isso irei sonhar debaixo dum cipresteAlheio à sedução dos ideais perversos...
O poeta nunca morre embora seja agreste
A sua aspiração e tristes os seus versos!
Bigada, um beijinho e bom início de semana :)
domingo, 15 de março de 2009
Diário de Bordo....
"Vivemos com o que recebemos, mas marcamos a vida com o que damos "
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Sou toda ouvidos....