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domingo, 15 de março de 2009

Diário de Bordo....


"Vivemos com o que recebemos, mas marcamos a vida com o que damos "

E, para mim, as aulas retratam isso mesmo: a DÁDIVA!!! E é bom quando isso se torna contagioso e, de repente, alguém do outro lado também resolve enriquecer-nos! Foi o que aconteceu esta semana: uma criaturinha "apresentou-me" a José Duro... confesso que não conhecia mesmo... e nada de piadinhas com o nome, combinado?! :p Por isso, aqui fica o poema "Doente" e espero brevemente ler mais coisas do poeta alentejano...

Que negro mal o meu! estou cada vez mais rouco!

Fogem de mim com asco as virgens d'olhar cálido...

E os velhos, quando passo, vendo-me tão pálido,

Comentam entre si: - coitado, está por pouco!...


Por isso tenho ódio a quem tiver saúde,

Por isso tenho raiva a quem viver ditoso,

E, odiando toda a gente, eu amo o tuberculoso.

E só estou contente ouvindo um alaúde.


Cada vez que me estudo encontro-me diferente,

Quando olham para mim é certo que estremeço;

E vai, pensando bem, sou, como toda a gente,

O contrário talvez daquilo que pareço...


Espírito irrequieto, fantasia ardente,

Adoro como Poe as doidas criações,

E se não bebo absinto é porque estou doente,

Que eu tenho como ele horror às multidões.


E amando doudamente as formas incompletas

Que às vezes não consigo, enfim, realizar,

Eu sinto-me banal ao pé dos mais poetas,

E, achando-me incapaz, deixo de trabalhar...


São filhos do meu tédio e duma dor qualquer

Meus sonhos de neurose horrivelmente histéricos

Como as larvas ruins dos corpos cadavéricos,

Ou como a aspiração de Charles Baudelaire.


Apraz-me o simbolismo ingénito das coisas...

E aos lábios da Mulher, a desfazer-se em beijos,

Prefiro os lábios maus das negregadas loisas,

Abrindo num ancelar de mórbidos desejos.


E é vão que medito e é em vão que sonho:

Meu coração morreu, minha alma é quase morta...

Já sinto emurchecer no crânio a flor do Sonho,

E oiço a Morte bater, sinistra, à minha porta...


Estou farto de sofrer, o sofrimento cansa,

E, por maior desgraça e por maior tormento,

Chego a julgar que tenho - estúpida lembrança -

Uma alma de poeta e um pouco de talento!


A doença que me mata é moral e física!

De que me serve a mim agora ter esperanças,

Se eu não posso beijar as trémulas crianças,

Porque ao meu lábio aflui o tóxico da tísica?


E morro assim tão novo! Ainda não há um mês,

Perguntei ao Doutor: - Então?...- Hei-de curá-lo...

Porém já não me importo, é bom morrer, deixá-lo!

Que morrer - é dormir... dormir... sonhar talvez...


Por isso irei sonhar debaixo dum cipreste

Alheio à sedução dos ideais perversos...

O poeta nunca morre embora seja agreste

A sua aspiração e tristes os seus versos!

Bigada, um beijinho e bom início de semana :)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

"Até ao fim", Vergílio...

Andei a ler-te durante os últimos tempos…. Deixas-me sempre em choque de mim para mim, na minha condição humana! A verdade, essa, ali, aberta como um corpo morto! As tuas falas comoventes, incisivas, trágicas de quem está perante o filho imóvel no caixão e, a partir daí, um tropel de pensamentos, memórias, reflexões entrecruzadas com um diálogo com quem não pode responder, ou melhor, responde da forma que tu imaginas, Vergílio, da forma que supões que ele te respondesse….
Ensinamentos! Tantos!
Germinam a cada capítulo, a cada página, a cada linha, a cada palavra: VIDA! MORTE! E a busca constante de algo sonhado e que, na maioria das vezes, é busca inacabada:

“Mas no imaginário é que é tudo e o real é uma procura para se encontrar com ele. E quando não se encontra há só que desistir….”

Sentimentos amalgamados, contorcidos de quem se torce em si mesmo nesta condição de SER e PERDER … apenas uma coisa se tem certa “enquanto dura esta hora” por isso:

“Sê calmo. De todo o modo a vida continua. De todo o modo. Estás vivo, é inegável. Sê em ti a verdade da vida, que é a única verdadeira. Mais nada. Mais nada.”

Obrigada, Vergílio, até mais ver!

AGORA.... "SENTIR? SINTA QUEM LÊ!"

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

"Devia morrer-se de outra maneira...."


Hoje de manhã, preparava-me para ir dar uma aula e, na sala cor-de-laranja, a televisão balbuciava algumas coisas imperceptíveis, mas, de repente, algo prendeu o meu ouvido: "Morreu João Aguardela, vocalista dos Sitiados....bla bla bla....39 anos....bla bla bla.... cancro...."

E, embora nunca tivesse sido um grupo de eleição, fiquei a ver umas fotos antigas que passavam na pequena janela e senti uma certa nostalgia, porque há coisas que nunca se esquecem! Quem não se lembra, por exemplo, daquela.... essa mesmo que estão a pensar: "Esta vida de marinheiro está a dar cabo de mim raparaparaparaparaparaparim!" Enfim, termina assim uma viagem.... Pensei em como é tão injusta esta forma de morrer! Lembrei-me, então, das palavras de José Gomes Ferreira:

"Devia morrer-se de outra maneira.

Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.

Ou em nuvens.

Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol

a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos

os amigos mais íntimos com um cartão de convite

para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica

a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje

às 9 horas. Traje de passeio".

E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos

escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir

à despedida.

Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.

"Adeus! Adeus!"

E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,

numa lassidão de arrancar raízes...

(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos...)

a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se

em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen...

como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de Outono

ainda tocada por um vento de lábios azuis…"

O que vos parece?! Não seria tão mais justo? Tão mais fácil?

Enfim.... boa continuação de semana, deixo um beijinho e até mais ver....

domingo, 18 de janeiro de 2009

Eh lá coisas....

Ontem, soube que tinha que arregaçar as mangas e lançar os meus dedos à escrita (há quanto tempo não o fazia!!!), tinha que deixar de amadurecer as ideias, antes que estas apodrecessem dentro de mim....

- O que te aconteceu ontem? - perguntar-me-ão.

- Ora, ainda bem que se lembram de perguntar (eh eh)! Recuem comigo até Sexta-feira.... estava literalmente enroscada numa mantinha (carinhosamente aquecida! Obrigada!) e a ver vermelho....eu explico: "Vermelho" é um filme de subtil beleza, onde todas as peças se vão encaixando harmoniosamente. Tem como ponto de partida as pequenas grandes coincidências: pequenos gestos sem importância que levam as personagens a algo maior....uma distracção, um acidente; uma desconfiança, uma traição; um flash, um momento de terror.... (para perceberem melhor o que quero dizer que tal.... vê-lo?)

- Então, mas o que é que isso tem a ver com a criação do blog?

- Calma, calma.... eu avanço! Depois, então, de ter visto este filme, ontem fui ao cinema e agora vejam:



"Sometimes we're on a collision course, and we just don't know it. Whether it's by accident or by design, there's not a thing we can do about it. A woman in Paris was on her way to go shopping, but she had forgotten her coat - went back to get it. When she had gotten her coat, the phone had rung, so she'd stopped to answer it; talked for a couple of minutes. While the woman was on the phone, Daisy was rehearsing for a performance at the Paris Opera House. And while she was rehearsing, the woman, off the phone now, had gone outside to get a taxi. Now a taxi driver had dropped off a fare earlier and had stopped to get a cup of coffee. And all the while, Daisy was rehearsing. And this cab driver, who dropped off the earlier fare; who'd stopped to get the cup of coffee, had picked up the lady who was going to shopping, and had missed getting an earlier cab. The taxi had to stop for a man crossing the street, who had left for work five minutes later than he normally did, because he forgot to set off his alarm. While that man, late for work, was crossing the street, Daisy had finished rehearsing, and was taking a shower. And while Daisy was showering, the taxi was waiting outside a boutique for the woman to pick up a package, which hadn't been wrapped yet, because the girl who was supposed to wrap it had broken up with her boyfriend the night before, and forgot. When the package was wrapped, the woman, who was back in the cab, was blocked by a delivery truck, all the while Daisy was getting dressed. The delivery truck pulled away and the taxi was able to move, while Daisy, the last to be dressed, waited for one of her friends, who had broken a shoelace. While the taxi was stopped, waiting for a traffic light, Daisy and her friend came out the back of the theater.

And if only one thing had happened differently: if that shoelace hadn't broken; or that delivery truck had moved moments earlier; or that package had been wrapped and ready, because the girl hadn't broken up with her boyfriend; or that man had set his alarm and got up five minutes earlier; or that taxi driver hadn't stopped for a cup of coffee; or that woman had remembered her coat, and got into an earlier cab, Daisy and her friend would've crossed the street, and the taxi would've driven by. But life being what it is - a series of intersecting lives and incidents, out of anyone's control - that taxi did not go by, and that driver was momentarily distracted, and that taxi hit Daisy, and her leg was crushed."

Cá está! Se eu não tivesse conhecido aquela pessoa e não tivesse uma relação especial com ela, essa pessoa não me teria dado o "Vermelho", e se não o tivesse visto na Sexta-feira e não tivesse ido ao cinema no dia seguinte e não tivesse visto aquele filme em particular.... talvez.... talvez tivesse deixado isto para amanhã ou depois! Mas "You never know what's coming for you", como diz a personagem principal do filme de ontem.... e eu pensei: Não, Susana Maria (estes dois nomes juntos fazem maravilhas LOL!), é Hora! E cá estou eu :)! Mas deixem-me partilhar mais um bocadinho!


Ontem....


.... "O Estranho Caso de Benjamin Bottom", digo, "Button" LOL (Amigas, convém salientar que o real fofo do senhor Pitt é deveras.... vocês sabem :p!) foi um dos melhores filmes que eu vi nos últimos tempos!!! Um dos melhores MESMO!!! Um filme que aborda o milagre da vida, a presença constante da Morte, a efemeridade das coisas.... tudo contado de uma forma muito engenhosa, ternurenta e que deixa os espectadores de sorriso agridoce.... e presos à grande tela, mesmo sendo um filme de três horas, nem dei pelo tempo passar! A intersecção dos dois planos de acção (a leitura do diário de Benjamin e a analepse até alguns momentos da sua vida e de Daisy) é muito astuciosa, sendo assim uma bela adaptação do romance de Scott Fritzgerald. A originalidade é também um ponto forte, uma vez que Benjamin desafia as leis naturais da vida, fazendo o percurso inverso ao de cada um de nós.... rejuvenesce em vez de envelhecer!!! No entanto, "Everyone feels different about themselves one way or another, but we all goin' the same way".... A morte é, portanto, uma palavra-chave! A tentativa de manter a dignidade até ao fim, a despedida.... isso foi algo que me tocou.... a oportunidade de dizermos o derradeiro adeus! O que dizer a alguém que amamos e está prestes a partir? Penso que será mais fácil arranjar as palavras certas todos os dias, não? Um "gosto de ti", um "adoro-te", um "obrigado".... Enfim, para além de tudo o que já vos contei, há vários símbolos de rara beleza ao longo do filme (o colibri, por exemplo), o "tiquetaquear" do tempo que passa e, claro, a banda sonora!!! No trailler "Arcade Fire" (um tema lindo!) e no filme mantém a qualidade: Beatles, The Boswell Sisters, Dede Pierce, Louis Armstrong e as composições de Alexandre Desplat! Uma verdadeira lufada de ar/som fresco.... Um filme a NÃO perder!!!


Despeço-me que já me alonguei o suficiente e até mais ver....

"For what it's worth: it's never too late or, in my case, too early to be whoever you want to be. There's no time limit, stop whenever you want. You can change or stay the same, there are no rules to this thing. We can make the best or the worst of it. I hope you make the best of it. And I hope you see things that startle you. I hope you feel things you never felt before. I hope you meet people with a different point of view. I hope you live a life you're proud of. If you find that you're not, I hope you have the strength to start all over again."


Beijinho!